Dia 7 - A estrada ficou pior
Acordamos umas 6:30 e eu ainda estava passando muito mal. Tomei leite de magnésia e um chá de boldo, fui melhorar eram 9:30. Enquanto isso o Thiago ficou cuidando de mim, dando uma olhada na rota e afins. Porém tínhamos que andar para verificar o caminho à frente.
Saímos para caminhar e encontramos 2 motoqueiros que tínhamos conhecido num posto à caminho de Salta, vindo para cá. Eles fizeram o trajeto contrário ao nosso e da mesma forma que paramos à noite, eles também, porque o trecho estava muito difícil para o outro lado também.
Nós emprestamos a nossa pá para que eles pudessem ajustar um pedacinho mais fácil da estrada, que passava só a moto. Nós tivemos que pegar o curso do rio, porque era o único lugar que nosso carro passava.
Os primeiros obstáculos foram bem tranquilos, muitas pedras grandes e água, porém tranquilos de passar.
Porém, tivemos uma subida muito íngrime para passar. O que acontece é que nosso carro é muito pesado, hoje ele está com 3 toneladas. A altitude aqui e a falta de oxigênio faz com que o carro não “respire” também tão bem e não tenha força o suficiente para subir os obstáculos. Mas mesmo assim, nossa XBruta não nos deixa na mão. Os pneus também foram extremamente importantes para a tração dela na subida. E conseguimos!
Seguimos em frente, poucos kilometros encontramos um senhora, com bastante idade, cuidado de lhamas. A frente encontramos uma casa pequena e simples com uma mulher, mais 2 meninos pequenos e uma lhama de estimação. A mulher é filha dessa senhora, e ela estava vendendo artesanatos. Eles moram ali, no meio di nada. Te recebem com um sorriso no rosto, com educação e carinho. Tinham vários artesanatos lindos. Os motoqueiros brasileiros nos pediram para dar uma ajuda para ela e assim que passamos, compramos mais um chaveirinho e demos umas bolachas recheadas para as crianças. Eu amei a Lhama. Com certeza queria ter uma de estimação, ela era muito dócil, parecia um cachorro.
Seguimos, subindo muito as cordilheiras em uma região chamada Negra Muerta. Porém, não imaginávamos o que viria pela frente!
Poucos quilômetros depois, o Thiago ouviu um barulho e a roda começou a travar. Era o rolamento. Ele já trocou o rolamento do carro inúmeras vezes, ele tinha uma oficina mecânica antes de iniciarmos o Habitat. Primeiro ele achou um rolamento extra, comemorei muito. Pensei “opa, só uma dificuldade pelo caminho, logo continuaremos”. Porém, depois de 3 horas tentando tirar o rolamento, ele viu que não tinha mais o que fazer, que ela estava prensada e que precisaria de uma prensa para retirar. Não tinha o que fazer. Estávamos no meio da cordilheira, 4 mil metros de altura, frio, o carro estava numa descida para um penhasco, ele não queria desistir. Montou tudo do jeito que deu e andamos incríveis 300 metros até a roda cair.
Foi aí que a situação mudou. Eram 5 horas da tarde, já estava ficando frio e escuro. O Thiago estava exausto, além de todo trabalho, o cansaço da altitude ajuda a piorar a situação.
Passou um carro com 3 homens dentro. Pedimos ajuda. Explicamos toda a situação. Eram guias da região. Eles mandaram mensagens via satélite para pedir ajuda para nós e seguiram viagem. Muito solícitos! Falaram que acreditavam que a ajuda chegaria em torno de 1 ou 2 dias.
Subimos a barraca, organizamos o carro e ficamos dentro dele. Fiz Cup Noodles para comer (o melhor isopor com gosto do mundo, eu amo). Estávamos psicologicamente e fisicamente cansados. Eu também ainda não estava 100%. Subimos para dormir em torno de umas 8 da noite. Ele dormiu, eu dormi em seguida. Porém, durante a noite, tive crises de ansiedade e pânico, sem motivo consciente aparente. O inconsciente estava com medo da situação, por mais que eu estava tranquila sabendo que tínhamos comida, água, cobertores, que o carro não iria ladeira a baixo e que alguma hora iriamos achar alguma solução para a situação, minha mente ficava inquieta e respondia pelo corpo. Mal consegui dormir. O Thiago acordou na madrugava, ficou vendo filme, cuidando de mim.